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A Terapia ABA deixa a criança robotizada!?

Algumas pessoas me questionam acerca da rigidez das respostas de indivíduos do espectro. Algumas chegam a sugerir que a Terapia ABA deixa a criança robotizada. Essa ideia de “robotização”, no entanto, é apenas o reflexo de uma dificuldade em generalizar o que é aprendido, característica comum em quadros de autismo. Algumas crianças possuem maior capacidade de generalizar o que foi aprendido, ou seja, utilizar as novas habilidades e aprendizados em novos ambientes, com diferentes pessoas, respostas e estímulos. Outras só apresentam a resposta no contexto ensinado, e para tarefas treinadas.

De modo geral, é esperado que a criança consiga generalizar uma classe de respostas, depois que ensinamos a resposta com um grupo de estímulos. Por exemplo, quando você ensina imitação como mandar beijo, dar tchau, bater palma etc, depois de um tempo é esperado que a criança desenvolva a imitação generalizada, ou seja, após o ensino direto de 10 ações, a criança busque imitar qualquer movimento apresentado. Além dos movimentos não treinados, é possível também observar a o aumento de imitações sonoras, o que é fundamental para desenvolvimento da fala vocal.

A generalização também precisa ocorrer em relação a pessoas, ambientes e estímulos. A criança deve responder a demanda dos pais, professores, avôs, e não apenas do terapeuta. O aprendizado treinado em contexto estruturado deve ser reproduzido também em outros ambientes e situações como escola, shopping, mercado, sala, cozinha, pátio etc. O ensino da nomeação de fotos de pessoas felizes, por exemplo, deve ser ampliado para apresentação da mesma nomeação para resposta de felicidade de pessoas reais, em filmes, novas fotos etc (criança deve ser capaz de responder a estímulos similares com mesma resposta).

A ideia de que a criança vai decorar as respostas é apenas mais um mito em relação a Terapia ABA. Além das características da criança (cada uma vai responder diferente a terapia), e da forma como ela vai aprender a generalizar fará toda a diferença na resposta dela. É desejável que em toda intervenção em ABA, o treino da generalização esteja incorporado nos programas de ensino, o que vai ajudar na apresentação de respostas mais “naturais”, e menos decoradas.

Publicado em 13.05.20 e revisado em 03.04.24

Luiza Guimarães
Luiza Guimarães

Especialista em Terapia ABA
Doutora em Psicologia - BCBA
Fundadora da @tatear.aba