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Agressividade e autismo: O que devo fazer?

Respostas agressivas e desafiadoras como machucar o outro, arremessar e quebrar objetos, e apresentar resposta de auto agressão são comum quando falamos de pessoas dentro do espectro. Como eles tem dificuldade em se comunicar e demostrar emoções, podem ter esses comportamentos como forma de comunicação, expressão das emoções e autoestimulação. Normalmente a forma de comunicação acontece em três momentos: (1) quando eles querem algum item, atividade, brinquedo, alimento; (2) quando eles precisam de atenção, e (3) quando eles querem fugir de alguma situação ou tarefa aversiva. Apesar de essas serem as situações mais comuns, também é possível identificar comportamentos agressivos em outros momentos: algumas crianças expressam sua felicidade através da mordida, por exemplo. Outras se beliscam ou abrem as feridas pela própria sensação produzida pelo beliscão e retirada da casquinha. E ai surge a 4 função desses comportamentos que é a autoestimulação (prazer ou alívio que sentem com o comportamento em questão).

A primeira coisa que deve ser feita para lidar com respostas agressivas de crianças do espectro é dificultar o sucesso do comportamento agressivo delas. Sendo assim, nos primeiros sinais de que você vai receber um tapa ou uma mordida, ou que a criança vai se machucar, segure as mãos dela, boqueei a resposta e/ou se afaste. Também utilize estratégias antecedentes (prática baseada em evidência) para reduzir a chance dela apresentar esse tipo de resposta (possibilite escolhas, forneça suportes visuais como timer, rotinas visuais, diminua a dificuldade das tarefas etc). Depois que ele morder/ bater será mais difícil controlar as consequências do comportamento desafiador. Normalmente, o que deve ser feito quando a criança demonstrar os primeiros sinais de agressividade é solicitar comportamentos alternativos de pedido para substituir a tentativa de mordida ou tapa. Por exemplo, quando a criança tentar te morder, e ela for vocal, peça para ela dizer o que ela quer vocalmente (peça para ela repetir palavra por palavra o que você falar, dando o modelo do pedido adequado por intervalo, por exemplo). Se ela não for verbal, peça para ela apontar, sinalizar, ou mostrar o que quer usando o sistema de comunicação alternativa. Quando ela tentar morder expressando felicidade, dê dicas físicas de como deveria se comportar, faça a criança bater palmas, por exemplo. É importante que outro comportamento possa ser ensinado. 

Quando ele conseguir bater, morder, arranhar, você deve evitar fazer contato visual com ele por alguns segundos, e modelar respostas de pedidos adequados. Apesar de crianças do espectro evitarem o contato visual, paradoxalmente nessas horas eles tendem a te olhar. Evitar o contato visual seria um primeiro sinal para a criança de que ela não foi bem-sucedida para conseguir sua atenção. Modele a resposta de pedir para olharem para ela, ou brincarem com ela. Se a criança quiser um brinquedo, direcione para que ela peça de forma funcional quando for possível. Se ela quiser que você se afaste, modele a resposta dela de pedir para você se afastar. Se você não puder atender o pedido dela, tente mudar o foco da situação e direcione para novos contextos (ambientes) e atividades.

Na prática clínica, já levei mordidas, puxões de cabelo, beliscões na bochecha, tapa na cara, arranhões, cabeçadas etc. Apesar de tentar ser indiferente aos comportamentos deles, muitas vezes, sentimentos como decepção e frustração são inevitáveis. Imagino que esse seja também o sentimento dos pais e terapeutas quando isso acontece, e por isso, esse seja um dos comportamentos mais difíceis de serem trabalhados por eles. Mesmo assim, é importante não desanimar e insistir no ensino de comportamentos mais adequados e na ampliação da comunicação deles. 

Publicado 20.05.14 e revisado em 03.04.24

Luiza Guimarães
Luiza Guimarães

Especialista em Terapia ABA
Doutora em Psicologia - BCBA
Fundadora da @tatear.aba